Friday, June 09, 2006

Fechadura

Merda.
É sempre assim, quando tenho a carteira vazia, o carro sem gasolina, o telemóvel sem dinheiro e os sapatos errados calçados, perco sempre mais qualquer coisa. Desta vez não foi a dignidade que perdi (não vale a pena pensar nisso, já nem sei o que é) mas as chaves da casa... Hoje vou dormir na rua, já não sinto respeito suficiente por mim para pedir ao meu amigo que me deixe dormir lá. Amanhã dou qualquer coisa a um arrumador.
Mas apetecia-me o sossego do meu abrigo, a paz da minha casa caótica e escondida dos olhares. Queria fazer de conta que não estava em casa quando me fossem bater à porta. Mas tenho a porta fechada e as que estão abertas exigem uma chave feita de boa educação e cordialidade e eu quero ser rude. Quero ser áspera como as mãos de um homem velho a passar no corpo de uma mulher jovem, quero causar nojo e vontade de abandono. Nunca consegui causar repulsa em nenhum dos homens e mulheres com que dormi. O meu corpo é um íman, a minha alma não, por isso a escondo atrás das paredes da minha casa e no trato ameno e insípido com as pessoas que pensam que me conhecem. As que não me conhecem, como tu que me lês, sabem, sabes, que não sou assim e que muito provavelmente te vou usar para aliviar o desejo de me perder.
Já é dia e os meus pés queixam-se dos malditos tacões que me levaram pela noite. Rendo-me à necessidade, tenho que pedir (gentilmente) ajuda.

Maria

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

às armas, minha qurida, às armas!

Saúda o sol que desponta
Do cimo desses tacões,
Limpa as ramelas dos olhos
E arranca corações!

Vale tudo! Homens, mulheres e bicharada!

10:18 PM  
Anonymous Anonymous said...

É pá, este gajo teve graça! Inspiraste-te no hino?! Ah, Viva o nacional futebolismo!

10:03 PM  

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