rendas
Vejo-as sair lentamente da porta ao lado da minha. Não lhes sinto grande pressa no andar desembaraçado e confiante. Aprendi, ao contemplar a rua pela janela, que as prostitutas se deitam tarde.
Penso que raramente atingem o orgasmo e que devem usar roupa interior desconfortável. Não tenho a certeza destas afirmações, claro, mas se fosse eu uma não me sentiria bem a “gozar”… Um serviço, a meu ver, deve ser feito com eficiência e tendo em vista o prazer do outro. Dava uma boa prostituta! Excepto na parte das rendas, fazem-me comichão. Mas usava-as, como uma farda, para me lembrar que estava a trabalhar.
Não sei porque falei nas prostitutas, não julgo ser daquelas pessoas que colam os olhos na estrada e os ouvidos na parede para enganar a solidão com o frenesim da vida dos outros. Trago a vida preenchida com a minha vida. Com a minha vida, somente.
Tenho casa, cama, roupa lavada e comida. A semanada que os meus pais me dão permite-me viver com conforto e chega para me divertir na cidade. Gosto dos bares cheios de fumo e com caras anónimas, adoro o trânsito e as buzinas em hora de ponta…
Vejo o meu cigarro a consumir-se sozinho, tal como eu, nesta noite em que ninguém me espera nos lençóis de seda acabados de comprar. Imagino os lençóis furados pelas pontas de cigarros e roçados do uso da pensão ao lado.
É isto que me consome, a solidão comprada pelo dinheiro e um outro tipo de solidão comprada pelo dinheiro deles. O meu corpo é um não-lugar, tal como esta casa onde me fecho. Tudo isto é um lugar vazio. O nada em que habito, a porta fechada por dentro e a angústia.
Penso que raramente atingem o orgasmo e que devem usar roupa interior desconfortável. Não tenho a certeza destas afirmações, claro, mas se fosse eu uma não me sentiria bem a “gozar”… Um serviço, a meu ver, deve ser feito com eficiência e tendo em vista o prazer do outro. Dava uma boa prostituta! Excepto na parte das rendas, fazem-me comichão. Mas usava-as, como uma farda, para me lembrar que estava a trabalhar.
Não sei porque falei nas prostitutas, não julgo ser daquelas pessoas que colam os olhos na estrada e os ouvidos na parede para enganar a solidão com o frenesim da vida dos outros. Trago a vida preenchida com a minha vida. Com a minha vida, somente.
Tenho casa, cama, roupa lavada e comida. A semanada que os meus pais me dão permite-me viver com conforto e chega para me divertir na cidade. Gosto dos bares cheios de fumo e com caras anónimas, adoro o trânsito e as buzinas em hora de ponta…
Vejo o meu cigarro a consumir-se sozinho, tal como eu, nesta noite em que ninguém me espera nos lençóis de seda acabados de comprar. Imagino os lençóis furados pelas pontas de cigarros e roçados do uso da pensão ao lado.
É isto que me consome, a solidão comprada pelo dinheiro e um outro tipo de solidão comprada pelo dinheiro deles. O meu corpo é um não-lugar, tal como esta casa onde me fecho. Tudo isto é um lugar vazio. O nada em que habito, a porta fechada por dentro e a angústia.
6 Comments:
mais vale só com dignidade do que mal acompanhada...Aprende a ter amor proprio seras mais feliz de certeza...
Bom, muito bom.
Que labirinto
no labor íntimo
Que labirinto
trazer ao cimo
do labor íntimo
o labirinto.
David Mourão-Ferreira
Caro anónimo, muito obrigada pelo conselho tão sábio. Prometo-lhe que não me vou dedicar á profissão mais velha do mundo e que me vou amar a mim própria.
Bonito.
nao vale a pena te dedicares a profissão mais velha do mundo.serás feliz se fores tu propria sem seres outra pessoa...
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