Monday, November 27, 2006

voz numa pedra

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal

Mário Cesariny

6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Acabou a tomenta.

beijo

6:16 PM  
Blogger Unknown said...

becou né...

6:20 PM  
Blogger Bandida said...

poeta de tudo.


como só ele.






abraço!
____________________________

11:44 PM  
Blogger Pedro F. Guerreiro said...

a para sempre ironia de tudo e alguma coisa.

1:49 AM  
Blogger Isabel Magalhães said...

E eu também estou aqui!







vim agradecer a visita. :)

(voltarei.)

Pat'aí!

6:11 PM  
Blogger Ludmila said...

Boa escolha para homenagem...

Beijo

10:30 AM  

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