Dentro em breve a vista da minha janela vai deixar de me pertencer. Passaram anos e as estações mudaram muitas vezes. A minha árvore foi renascendo e adormecendo, vi nela o vigor da Primavera e a tristeza melancólica do Outono.
A porta, em frente à qual esperei incansavelmente e cheia de esperança vai fechar. Os objectos vão deixar de estar no seu rodopio habitual e não vão ter hipótese de serem adoptados.
E eu, vou partir, fechar a porta e ir para o mundo, para um espaço que não fui eu que criei. Levo comigo as desilusões e os fracassos e deixo o trabalho inútil, as horas passadas a construir o sonho que morreu.
Encontrei-me e perdi-me muitas vezes aqui, e é perdida que parto, desalentada, sem chão.
Começou com o erro da honestidade, pensava que havia, mas era inexistente, começou também com inexperiência e a corrida do adquiri-la não foi suficiente, depois pela procura desenfreada de soluções, as portas na cara, as que se abriram…Esta vai fechar, mas o passado mais inglório vai-me acompanhar.
Saio partida por dentro e mutilada por fora, a fé à medida que desapareceu consumiu o meu corpo.
Tenho objectivos, vou fazendo por isso, mas a angústia é grande, o medo de cair já não é tão inocente como o que sente o bebé que começa a caminhar e que, ao cair, se levanta com a mesma determinação de sempre. Repito constantemente para o ser que habita na minha cabeça: estás mais forte agora, sabes mais, já sabes… Mas ele está encolhido a um canto, com medo de errar mais uma vez, de nunca ser capaz de voltar a tentar andar, de desiludir quem o apoiou e de ter perdido a garra.
Já tive vários sonhos que eram rapidamente substituídos por outros, mas este eu agarrei-o, embalei-o, alimentei-o e dediquei-lhe a vida e o pensamento. Não foi só uma coisa para mim, fui eu. Agora, com a derrocada tenho que me reinventar e não estou a ser capaz.
8 Comments:
e se fosse dar um passeio a qualquer parte? sentar num banquinho e ficar a olhar para as árvores em qualquer lado.
não te vou dizer que isso passa, mas podes pensar noutra coisa que relaxe.
Beijo
:(
:(
:(
:(
:(
Era agora que devia dizer qualquer coisa, não era?
Talvez por te conhecer tão bem não consiga...
Tudo o que te pudesse dizer ia soar àquele telefonema em que tu, nervosíssima, me tentavas convencer que estava tudo bem e que a mulher havia de aparecer (no passado dia 21, recordas-te?).
Ora bolas.
as palavras que vÊm do espirito são as mais fáceis de brotar, mas mais dificeis de digerir.
Não, não me conheces, mas eu conheço esse sentimento atroz.
Não é que possa fazer muito, mas era só para deixar aqui uma palavra:
Força aí para te levantares
É um bonito texto...oh enBirgonhada...com uma forte dose de melancolia... como se fosses perder um Eden...
mas vais ter outra arvore, uma de folhas novinhas...
Mereces felicidade.
:)
gostei do texto
o passado não é inglorio nem em vão, é passado é aprendizagem, o que importa é o presente, é sempre um presente ;-)
a imagem é quente muito bonita
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Isso não é ao pé do NL ?
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