Os cães são uns espertinhos
A lua está partida ao meio. Com a neblina a beijar a alta, a cidade dos mortos vivos parece ainda mais adormecida. Vejo-a, abomino-a com o abdómen. Já senti isto antes, quando as ruas do Porto começaram a ficar cheias de espinhos e lanças a sair dos muros, quando tinha que, ao sair de casa, cortar silvas e galhos e escapar a tarântulas, vizinhos e escorpiões.
O único espaço onde se pode respirar agora é no metro e vinte por metro e noventa de colchão encostado à janela, no piso mais alto da construção imponente onde habito. Tudo o que está para além disso é selva, com elefantes e hipopótamos de três metros, homens de fato, mulheres de traje, velhos de cajado, carros com tubos de escape a lançar chamas, crianças sardentas, "local shops para local people" por todo o lado, por todo o lado, porra.
Não há sinal de humano, toda a gente perfeita, toda a gente segura, determinada, com ambições, até os cães sabem exactamente onde cagar.
Gostava de poder dizer que fui eu que parti a lua, não fui. Podia ser uma metáfora linda: - Parti a lua, tirei-lhe um bocadinho, para saber ao que sabe ver as coisas de outra perspectiva. Cobri-me com pozinhos de perlim-pim-pim e fui ter com o Peter Pan recuperar a infância perdida e com o príncipe William viver bons momentos adolescentes no dorso de um cavalo ou de um iate.
"No Bairro do Amor a vida é um carrocel", é pá, e dizia também Jorge Palma: reduz as necessidades, se queres passar bem. Sinceramente não sei porque me veio a gaita desta canção à cabeça, mas não saiu de lá o dia todo.
E com esta me despeço, vou bater a portas alheias com um saco de serapilheira na cabeça com dois buracos nos olhos e dizer: Bom dia, fala a Marta.
Boa Noite
O único espaço onde se pode respirar agora é no metro e vinte por metro e noventa de colchão encostado à janela, no piso mais alto da construção imponente onde habito. Tudo o que está para além disso é selva, com elefantes e hipopótamos de três metros, homens de fato, mulheres de traje, velhos de cajado, carros com tubos de escape a lançar chamas, crianças sardentas, "local shops para local people" por todo o lado, por todo o lado, porra.
Não há sinal de humano, toda a gente perfeita, toda a gente segura, determinada, com ambições, até os cães sabem exactamente onde cagar.
Gostava de poder dizer que fui eu que parti a lua, não fui. Podia ser uma metáfora linda: - Parti a lua, tirei-lhe um bocadinho, para saber ao que sabe ver as coisas de outra perspectiva. Cobri-me com pozinhos de perlim-pim-pim e fui ter com o Peter Pan recuperar a infância perdida e com o príncipe William viver bons momentos adolescentes no dorso de um cavalo ou de um iate.
"No Bairro do Amor a vida é um carrocel", é pá, e dizia também Jorge Palma: reduz as necessidades, se queres passar bem. Sinceramente não sei porque me veio a gaita desta canção à cabeça, mas não saiu de lá o dia todo.
E com esta me despeço, vou bater a portas alheias com um saco de serapilheira na cabeça com dois buracos nos olhos e dizer: Bom dia, fala a Marta.
Boa Noite
4 Comments:
bom dia, Marta, faça o favor de entrar...
;)
Liga de "Cavaleiros".
O Jorge não, esse é um gentleman...
ainda bem que não partiste a lua... gosto dela inteirinha.
:)*
... num primeiro momento julguei estar a ler uma crónica da cidade do Porto no ano 2050. Só quando cheguei à cena dos cães é que percebi que tudo se passava na actualidade. É que nesse futuro -não tão longínquo como parece, os canídeos são robots e por isso já não cagam. Entretanto, se tiveres muita ambição e frequentares com regularidade um ginásio daqueles cheios de pesos e halteres, quem sabe se um dia não partes a lua e lhe cortas uma talhada?
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