Saturday, October 06, 2007

Música

Desvendar é tirar a venda que tapa os olhos. Arranco as pestanas uma a uma, a luz penetra com violência a íris, agrafo as pálpebras e fixo o olhar no sol. Sim, há dor. As lágrimas transparentes são rapidamente substituídas por sangue. Tudo escurece, não porque o dia terminou mas porque a córnea sucumbe.
Declaro guerra à estupidificação dos sentidos e tal máquina sobre-humana tacteio as paredes da casa à procura de estímulos. A carícia da parede, a carícia da madeira, a carícia do chão, a carícia da escova de cabelo, a carícia do vidro. Dispo o meu corpo e rebolo-me incessantemente na tijoleira fria, raspo os meus mamilos no tapete, esfrego com as mãos o centro do meu corpo, quente. Ouço-me gritar de desespero e prazer, sinto pela primeira vez as cordas vocais a vibrar, arrepio-me.
Está tudo escrito em braille. O meu hálito é uma sinfonia, a minha pele cheira a sons e silêncios. Marinheira, astronauta, cientista, bailarina, pessoa, lagarto, pedra, ser, não ser, livro, mão, fumo.
Pairam conceitos no ar, acerto-lhes em cheio com a minha fisga. Tombam e piso-os altiva com os pés descalços.

5 Comments:

Blogger Abssinto said...

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4:14 PM  
Blogger Abssinto said...

Existir para insistir para existir para insistir.....

4:20 PM  
Anonymous Anonymous said...

Bem, vinha ver se estavas viva... Já vi que sim. Pelo menos aparentemente...!

4:15 PM  
Blogger Mónica said...

tcharam parece que a criativiadade tá em todo o lado, fugiu mesmo de mim :DDDD

10:21 PM  
Blogger Mónica said...

n te raspes mto no chão q é capaz de fazer ferida :P

10:21 PM  

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