Tuesday, May 10, 2011

O menino que queria ser um nabo


Quanto mais sabia sobre o nabo mais lhe apetecia ser um nabo.

Esta é a verdade, a história nua e crua do menino que queria ser um nabo e que de tanto desejar conseguiu concretizar o seu sonho.

O nabo, tenho que admitir, tem um sabor muito particular, é adocicado, mas ao mesmo tempo tem um travo picante. Logo à partida é um desafio para as pupilas gustativas. Depois, é um alimento muito versátil, pode ser comido cru ou cozinhado e nada no nabo é dispensável, porque até mesmo a rama pode ser consumida.

Com o menino aprendi que o nabo é um vegetal crucífero e muitas outras curiosidades que não vou enunciar aqui, porque facilmente podem ir à “Wikipédia, a enciclopédia livre” ou telefonar para o produtor ou especialista de nabos mais próximo. Isso seria apenas uma grande perda de tempo, um desvio, porque o cerne da questão é a ambição deste menino e os caminhos percorridos até à sua realização como nabo.

Tudo parecia estar contra ele. A família não o apoiava, diziam que era um disparate, que ele devia desejar ser outras coisas mais plausíveis como astronauta, jogador de futebol ou agente secreto. Os amigos eram ainda mais contra essa ideia e faziam caretas quando se lembravam do sabor do nabo e das refeições em que eram obrigados a engolir tão repugnante vegetal.

Mas o menino nunca se deixou abalar. Primeiro, tentou ficar parecido com um nabo. Pegou num martelo e quebrou o seu nabinho mealheiro e com as poupanças de uma vida correu a comprar o fato de nabo que estava à venda na loja dos chineses que ficava perto da sua escola. Durante dias e até meses conservou o fato vestido, dormia com o fato, ia para a escola de fato, tomava banho de fato… Claro que era gozado, claro que a família o levou ao psicólogo, claro que o fato começou a rasgar. Mas nunca o menino vacilou.

Um belo dia o menino tirou o fato, ficou a olhar para ele demoradamente e percebeu finalmente que não é o exterior que importa, que nunca poderia ficar com a aparência de nabo, nem mesmo com todas as operações plásticas do mundo e que o que importava era o interior. Por isso, desde esse dia passou a andar com um nabinho pequeno enfiado no cu.



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