Meu bebé
Meu menino,
meu menino pequenino, meu bebé...
Não fazes ideia de como sinto a tua falta, apesar de teres
sido quase “só” a minha barriga que crescia. Mas sabes, era só a minha barriga
que permitia ver-te e como esta crescia pensava que estavas bem e o papá também
pensava a mesma coisa.
Sabes, todos os dias a mamã cantava para ti, com a afinação
que podia, mesmo quando estava triste com outras coisas, para que tu soubesses
que estava tudo bem. O papá é que é o cantor da família e ouvíamo-lo muitas
vezes no trabalho da mamã, porque ele é tímido e tinha vergonha de cantar para
ti através da minha barriga, mas sei que te dedicou mil canções. A nossa canção,
minha e tua, era a Estrela d`alva do Zeca Afonso, ouviste-a muitas vezes em
versões malucas... Irias aprender com o tempo que não podias confiar na tua mãe
para saberes as letras das músicas. Canto-ta todos os dias, ainda hoje e
digo-te: ouvirás cantando nas alturas, trovas e cantigas de embalar, trovas e
cantigas muito belas, dorme meu menino a estrela d`alva.
Recebeste muitas festas, muitas, muitas e o papá todos os
dias te dava um beijo na barriga. Foram mais festas minhas, porque eu é que
andava contigo de um lado para o outro e sempre que podia, exibia-te. Mais
tarde, irias ter vergonha de mim, por te estar sempre a exibir, mas sabes meu
menino, tinha tanto orgulho em ser tua mãe, que a apesar de seres tão pequenino
já mal me cabias no peito.
Meu pequenino, meu bebé, meu filho, no dia 17 de um mês
disseram-nos que não vivias. Nós estávamos à espera de te ver bem. Queríamos
conhecer-te pela primeira vez mais de perto. Mas não foi isso que aconteceu,
meu amor. O meu coração parou. O nosso coração parou.
Só não me desfiz naquele momento por causa do teu papá, que
estava destroçado ao meu lado, a tentar lidar com a dor dele e com a minha. Choramos
tanto, filho.
Mas eu tinha-te ainda dentro de mim e não podia ser e no dia
a seguir tive que ir para o hospital. Pelos vistos estavas tão agarrado a mim,
como eu estava a ti, eras um menino da mamã, meu bebé.
Foi muito violento, passei pelo mesmo que teria que passar
se te trouxesse à vida, mas apesar de ter estado doze horas com contrações, mesmo
assim, tiveram que te arrancar de mim.
Ainda te procurei nos destroços, para me poder despedir de
ti, mas não te encontrei. Não sei como me despedir de ti.
O papá sempre que o deixaram esteve ao nosso lado.
Não cheguei a conhecer-te filho, mas amo-te muito, quero-te
muito, devíamos ter tido tempo para isso, para nos conhecermos, para
brincarmos, para nos chatearmos, para saber se ias ter o nariz do pai e as
orelhas da mãe ou as tuas próprias, tempo para aprender a ser mãe contigo, para
não sentir este vazio, este continuar da vida patético.
1 Comments:
Como compreendo essa sensação. Passámos por essa experiência em Maio deste ano. Julgo que nunca se esquece, também não faria sentido esquecer.
Haverá sempre lugar para a sua existência e podemos sempre "sonhar" sobre quem seriam...o sonho faz parte da vida.
Bons sonhos
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