Monday, August 13, 2007

O fim do amor ou o luto sem fantasmas

Todos nós, quase sem excepções tivemos relações amorosas que terminaram. O fim de uma relação pode ser equiparado com um luto, luto sem cadáver, luto sem uma impossibilidade de comunicação. No entanto, não deixa de ser um luto, pois em tudo se assemelha a uma morte, anunciada ou não, em que as pessoas que faziam parte de um conjunto se desagregam. Ainda que esta esteja acessível muitas das coisas que faziam parte do quotidiano das partes desaparece, deixando um vazio que leva a uma reconstrução identitária. O nós, dá lugar ao eu. Obviamente que esse luto luto é mais sentido quando maior tiver sido o grau de entrelaçamento das vidas. No entanto, nunca deixa de ser uma experiência de marcado sofrimento e de uma redefinição de hábitos e posturas principalmente no que respeita ao comportamento social.
A nova identidade que surge é seguida por momentos de choque em que a tensão leva à procura de espaços de fuga aos obstáculos que se deparam. Impossibilitado/a de perpetuar a imagem do casal e tendo em conta o maior ou menor masoquismo da pessoa, ou por outras palavras, a forma como encara a dor da ausência, a pessoa procura uma nova perspectiva fenomológica, fugindo à presença dos locais marcados territorialmente pela lembrança do amor fracassado. As práticas de sociabilidade também se alteram devido à fusão de vivências que ocorre durante uma relação. A relação humana entre o individuo e a paisagem é muito forte porque muitas vezes trás recordações adensadas por esses lugares.
É necessária uma mudança nos comportamentos e atitudes para que se possa afirmar a separação entre o casal. Sabemos que enquanto enamorados o centro da nossa vida é o outro, a quem debitamos sonhos, expectativas e desejos, não deixa no entanto de ser um centro excêntrico, uma ficção estética necessária para que a vontade de comprometimento e reprodução se perpetue, já que somos todos animais sociais e nos está inscrito geneticamente o acasalamento e a reprodução da espécie.
O luto é um estado de não- identidade que irá servir de partida ou de fim para os mais desencorajados, para um estado de reconversão e de antropofagia , ou seja, dá-se uma racionalização que absorve o “inimigo”, transformando-o numa peça inútil e à medida que se vai ultrapassando o estado da negação abrem-se as portas para o novo, para o viril e para o anseio de grandes renovações sociais para a pessoa.
O luto é a passagem necessária do que é estático para o dinâmico, a saída do luto é sinónimo da abertura ao exterior, que só é permitida pelo próprio se estiverem neutralizadas, na medida do possível, as reminiscências do passado.

6 Comments:

Blogger Jo said...

O luto pode ser uma luta. É bom chegar ao seu fim.
Sei...
Beijos

9:36 PM  
Anonymous Anonymous said...

É horrível,perder quem se ama,e o luto é bem difícil.
O melhor é mesmo evitar os sítios comuns,e agarrarmo-nos às coisas boas que temos,para esquecer...esquecer...

9:56 PM  
Blogger sobre-nada said...

É mesmo uma luta maizinha, doi, doi, e doi. O ideal é não olhar para trás, por mais difícil que seja e...não sei, seguir...

12:05 AM  
Blogger maria carol said...

nós... demasiado humano....
inda pelo menos a ficção estética...

2:26 AM  
Blogger Abssinto said...

"Remembering you fallen into my arms
Crying for the death of your heart
You were stone white so delicate Lost in the cold
You were always so lost in the dark..."

(pictures of you)

Brilhante ensaio. Brilhante.
bj

9:53 PM  
Anonymous Anonymous said...

A que livro foste buscar estas ideias para o teu ensaio? Também gostava de conhecer. Muito bom!

5:07 PM  

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