Mais sobre o amor
Tenho um coração carente, mas silencioso. Fui educada pela minha avô que repartia as afeições por uma manada de filhos e por uma filha, quase da minha idade muito territorial. Mas, de vez em quando, lá me conseguia encolher na barriga dela, com a qual eu costumava gozar ternamente e sobre a qual ouvia sempre: um dia também a terás. Quando a minha tia/ irmã aparecia lá eu desocupava o posto e fazia-me de ocupada, para evitar ficar com menos cabelos na cabeça.
Acho que a carência nunca me abandonou e roubo afectos quando posso, mas sem nunca querer ocupar o lugar de ninguém. Devo ser mesmo a única pessoa do universo que recebe telefonemas da amante do amado com lengalengas do género: sabes que eu gosto muito dele, eu só quero ser feliz, faz-me falta e tal, e responde com um: percebo-te, vou ver o que posso fazer.
Isto é um bocado estúpido, mas é como aquela publicidade dos preservativos ou do Chico em que se diz que Maria ama José, José ama Carolina, Carolina ama Amadeu, Amadeu ama Jerónimo ou qualquer coisa deste tipo.
É muito complicada esta coisa dos afectos e eu reafirmo peremptoriamente que não gosto de tirar o lugar de ninguém, sou até capaz de forçar um pouco as coisas para que o mundo das afeições não tombe.
Talvez ainda não tenha encontrado o testo para a minha panela ou a peúga que é o par da que tenho solitária na gaveta dos perdidos e não achados.
A única coisa de que tenho a certeza é o amor da minha pequerrucha, com ela estou sempre em falta, tem um lugar muito grande para mim e eu se pudesse absorvia-a com o manto do amor fraternal, outro amor inegável é a minha gata, tive sorte, escolheu-me como dona. Nestes dois mundinhos encaixo bem, no resto não tenho a certeza. Já amei muito, sou uma grande Amadora, mas confesso que não tenho muito jeito. Espaço não me falta, o problema é só não me chegar o puzzel em que a minha peça encaixa muito bem.
5 Comments:
"Fui educada pela minha avô" - confuso...
Muito bom o desabafo na primeira pessoa, eu é que não me despia assim em público... livra... mas tu és fote...
Chico... claramente Chico...
A vida descreve curvas sobre curvas. O certo é que nunca sabemos nada, nunca saberemos mais nada do que é melhor para nós, se havemos de ir na corrente ou remar na direcção contrária. O amor...há velhinhos a casar aos 90 anos, no limite, isso dá-me optimismo.
bjs a distribuir pela pequerrucha:)
texto fabuloso na primeira pessoa!
Amadora é uma cidade um bocado feia, porque não Nova Iorque?
"com ela estou sempre em falta" e o resto podes ter a certeza que vem :D
Post a Comment
<< Home