Alice e Roberto
Alice está na cama bem acompanhada, hoje a liberdade é total, fuma cigarros e bebe cerveja na cama... Nascemos na cama, quase todos, morremos na cama, quase todos, curamos as doenças na cama... A cama de Alice ainda cheira ao Roberto. Porque não aí, no conforto do seu cheiro agarrar a força para o chorar. No meio do fumo do cigarro, do incenso, dos cheiros juntar as lágrimas, a humidade, o odor da tristeza de deixar alguém partir, alguém que se ama.
Ela percebeu que tentar agarrar uma alma errante é impossível, não se muda ninguém, ninguém nos muda. Se em gestos mudos tentámos aproximar a alma a essa alma a dor cresce, porque os olhos cobertos de amor transmitem um silêncio maior, criam uma capa gigantesca quase capaz de enganar...
Alice e o espelho tapado, Alice e a solidão, Alice e tudo aquilo que perdeu. Criou a ilusão que o amor supera, que o amor transforma, que o amor abria a Porta. A Porta estava sempre como no início, entreaberta e depois de dez anos continuava assim. Quando era esguia conseguia ir entrando e ir saindo. Depois engordou um pouco e tornou-se cada vez mais difícil. Roberto não a entendia, pensava que era suficiente, mas Alice estava mais gorda. Alice estava mais gorda e com feridas de tanto raspar a barriga na porta entreaberta.
Apetece-lhe ir atrás no tempo e fazer de conta que a conversa que a atirou para a cama não existiu. Até podia não existir, mas a alma errante e a alma penada que não abandona a casa assombrada pelas ideias de um amor que fica mais do que regressa, ia continuar a pairar.
Roberto é um daqueles homens cheios de charme, inteligente e bem falante, com muitos amigos, que cheira sempre bem, mesmo quando está suado, que ri alto das piadas e que sabe viver. Alice é uma mulher aparentemente extrovertida, obcecada com o trabalho ou com a falta dele e que há muito tempo não sabe como apreciar a vida nem rir das coisas com piada. Ele desprendido e ela absolutamente presa à forma como há-de sobreviver no mês seguinte. Ele protegido como todas as pessoas deviam ser e ela a auto-proteger-se. Ele não dá erros ortográficos, ela não sabe se os dá.
Ele chorou, ela chorou.
Ele vai chorar um mês e três dias, Alice vai deixar de acredita no amor.
Ela percebeu que tentar agarrar uma alma errante é impossível, não se muda ninguém, ninguém nos muda. Se em gestos mudos tentámos aproximar a alma a essa alma a dor cresce, porque os olhos cobertos de amor transmitem um silêncio maior, criam uma capa gigantesca quase capaz de enganar...
Alice e o espelho tapado, Alice e a solidão, Alice e tudo aquilo que perdeu. Criou a ilusão que o amor supera, que o amor transforma, que o amor abria a Porta. A Porta estava sempre como no início, entreaberta e depois de dez anos continuava assim. Quando era esguia conseguia ir entrando e ir saindo. Depois engordou um pouco e tornou-se cada vez mais difícil. Roberto não a entendia, pensava que era suficiente, mas Alice estava mais gorda. Alice estava mais gorda e com feridas de tanto raspar a barriga na porta entreaberta.
Apetece-lhe ir atrás no tempo e fazer de conta que a conversa que a atirou para a cama não existiu. Até podia não existir, mas a alma errante e a alma penada que não abandona a casa assombrada pelas ideias de um amor que fica mais do que regressa, ia continuar a pairar.
Roberto é um daqueles homens cheios de charme, inteligente e bem falante, com muitos amigos, que cheira sempre bem, mesmo quando está suado, que ri alto das piadas e que sabe viver. Alice é uma mulher aparentemente extrovertida, obcecada com o trabalho ou com a falta dele e que há muito tempo não sabe como apreciar a vida nem rir das coisas com piada. Ele desprendido e ela absolutamente presa à forma como há-de sobreviver no mês seguinte. Ele protegido como todas as pessoas deviam ser e ela a auto-proteger-se. Ele não dá erros ortográficos, ela não sabe se os dá.
Ele chorou, ela chorou.
Ele vai chorar um mês e três dias, Alice vai deixar de acredita no amor.
6 Comments:
Excelente.
Fez-me lembrar uma letra de Legião Urbana Eduardo e Monica
a vida é tão curta que não vale a pena perder tempo por quem não nos ama.vive a tua vida em toda a plenitude.irás encontras alguém que goste de ti e tu também gostes
Fantástica esta gente que acha que tudo o que se escreve nos blogs é confissão pessoal. E que ainda tem lata de opinar sobre a suposta vida dos outros. Belo texto, já agora.
belos textos...
Oh Alice querida...
:/
belo.
crú.
a vida é assim mesmo.
sem anestesias inúteis.
*
Post a Comment
<< Home