Sei que dizer que escrevo do coração é cliché, por isso, hoje, escrevo do fundo do
ésofago. Não quero ser repetitiva, apesar de saber que o meu umbigo está muito patente neste
cantinto nos confins do global. Muitas vezes me pergunto sobre o rumo de isto. Muitas vezes me pergunto do rumo de tudo.
É curioso como o estado de espírito varia, tenho vinte e seis anos, hoje deram-me dezoito e fiquei contente e aborrecida, sim,
aborrecida é uma boa palavra, porque ia em trabalho. Não sou ambiciosa no sentido
translato (adoro esta palavra), mas sou exigente, vejo-me a fazer um
quíz sobre vidas e sinto-me uma desilusão. Detesto perder, mas não tenho a
convicção dos vencedores, sou fraca.
Introspecção controlada, é lixado, sei o que devia mudar, mas não consigo, deixo-me ficar mal e fico a tresandar de pena por não ser capaz de me retocar, polir, mantenho a pilha de roupa sobre a cadeira e acordo tarde para ir para o emprego, bloqueio, faltam-me
competências, tenho preguiça de as arranjar e não tenho 1,50€ para as ir comprar aos chineses.
O meu esófago diz-me que bebo demais. Eu digo ao meu esófago para ter paciência... é só até ter as minhas coisas mais organizadas. O meu esófago diz-me que as promessas são levadas pelo vento.
Para já não tenho celulite no rabo, nem
pneus na barriga, acho que não tenho nenhuma doença com nomes difíceis de pronunciar.
Por outro lado também nunca experimentei drogas estranhas nem participei em
swings nem orgias, não conheço o "mundo", desconheço o subsolo e o brilho dos diamantes.
Porra, é difícil, tenho num lado o desejo de controlar os
câmbios e variantes da minha modesta vivência e por outro a fome avassaladora de
experimentar tudo, quero
experimentar o dito cujo infinito, ainda que saiba que o infinito é
muuuuito limitado.
E chega, ou acabo por dizer por dizer quanto calço!