Friday, March 31, 2006

Roda

Quando o dia corre mal e descubro que não fiz nada do que planeei:
  • sinto-me frustrada, derrotada e vencida;
  • faço tudo para me sentir mal;
  • prometo a mim própria que para a próxima vai ser diferente;
  • censuro-me, condeno-me e só não me chibato porque não me sinto muito confortável com a dor física;
  • nova promessa de redenção;
  • suspiro;
  • novo suspiro acompanhado de expressão facial dolorida;
  • tenho um surto de energia;
  • produzo qualquer coisa útil;
  • vitoriosa, faço novo plano maquiavélico e impraticável.

P.S. Depois volto sempre ao primeiro ponto. Tenho consciência de que muito dificilmente sairei deste ciclo vicioso. Mas... é a única forma de dormir em paz.

Thursday, March 30, 2006

Vazio existencial

Vale a pena ver...

A History of violence de David Cronenberg com Maria Bello, Ed Harris e William Hurt.

Wednesday, March 29, 2006

Blá, blá, blá- A PEÇA!

(Numa esplanada qualquer, a hora incerta.)
Gaja
Vi o meu ex-ex-ex-ex-ex-ex-namorado ontem.

Amiga da Gaja
Qual, o X.?

Gaja
Não, esse é o meu ex-ex-ex-ex-namorado.

Amiga da Gaja
Ah, já sei, o T.?

Gaja
Sim, esse.

Amiga da Gaja
E...

Gaja

E nada. Vi-o, pronto.
Silêncio
Sabes, agora que estou apaixonada as estatísticas incomodam-me, torno-me pudica.

Amiga da Gaja
Tu, pudica!! (risos) Ainda me hás-de explicar melhor essa história.

Gaja
O amor transforma.

Amiga da Gaja
E os amores do passado?

Caros leitores, aceitam-se contributos!

1,2,3 / Acção!

Gostava de saber porque é que aquele homem esmurrou o outro na cara. Apetecia-me ter gritado: -REPITAM, POR FAVOR! -mas não me parece que fossem na cantiga.
A vida é um filme com a fita avariada.

Tuesday, March 28, 2006

Silêncio


Grito para dentro, não quero incomodar ninguém.

Thursday, March 23, 2006

Surro

Hoje acordei irada com o passar das horas. O sono não tinha ainda partido e já o dia caminhava furiosamente em direcção à noite, sem me pedir licença. Murmurei à pessoa que encontrei na minha cama que já eram horas. Atirei-me para a banheira vazia e desejei continuar lá para sempre. A água não levou a preguiça pelo ralo e continuou presa a mim como surro. Tenho que ir para a rua enfrentar as caras de papel mas está a chover. Toda a gente sabe que é muito mais difícil ter uma expressão adequada nestas condições. Não sei qual hei-de levar, as únicas máscaras impermeáveis que tenho são a da "Lolita experiente" e a da "Executiva com uma pitada de inocência", estou deveras indecisa. Não me atrevo a perguntar-lhe a opinião. F. fica sempre constrangido quando tem que tomar decisões.

Sunday, March 19, 2006

Não sei

A luz do sol faz brilhar a moeda de 10 cêntimos perdida no passeio. Imagino quanto troco miúdo já terei semeado. É divertido imaginar a quantia.
Já perdi um pouco de tudo: camisolas, lenços de assoar, livros e cassetes, pessoas, gatos, momentos (os momentos fazem-me falta).
Consumo o estranho objecto em que estou sentada, esta cadeira metálica da esplanada do meu café preferido que me consome também. O assento está quente, mais confortável. Mas quando me levantar sei que vai arrefecer, tal como a memória que amanhã vou ter de isto. Inalo o fumo do meu cigarro juntamente com o fumo da cidade.
Os objectos exercem um estranho poder magnético sobre nós. Não consigo calcular o espaço necessário para guardar todos os objectos nem a sua memória Felizmente sou leviana e descuidada e, apesar de estar sempre a perder, não me lembro de ter perdido nada que me faça falta.

P.S. Ângulo Saxofónico, o texto que aqui estava perdeu-se.

Thursday, March 16, 2006

Onde estás?


Passei o dia em frente à lareira com o meu gato enroscado nas pernas. Não esteve um dia frio mas faltava-me calor.

Ca-lor, c-a-l-o-r.

Gosto de dizer palavras com a letra "l". A língua, o laço, Lili, Leonardo, libelinha... Tens que experimentar! Mas não pode ser de qualquer maneira, tens que pensar que vais dizer uma palavra com "l" e senti-la. É um alívio quando a língua se liberta dos dentes.

Alívio. A-lí-vi-o.

Sabes o que me apetece fazer?

Quero sair desta sala e levar o calor comigo, quero ir para a rua e gritar, quero telefonar a toda a gente e alugar um avião para voar sobre o teu país... Onde fica?

Espera, não me digas. Vou-te encontrar, vais estar a brincar com as palavras, vais estar a pensar em mim enroscada com o gato, vais estar pronto a abrir a porta e eu não vou ser, nunca mais, uma estranha.

Wednesday, March 15, 2006

Tempestade

Durmo de barriga para cima, todos os dias, invariavelmente. Ouvi dizer que as crianças devem dormir de lado, para evitar que sufoquem. Eu já não sou criança. Reservo-me então este direito, afirmo-me para mim própria desta maneira... estúpida.

Tomo banho no meio da digestão e devoro laranjas à noite, apesar de ouvir sempre na cabeça a ladainha da minha avó: - a laranja de manhã é ouro, à tarde é...

Nunca consegui perceber porque tento a sorte desta maneira, até porque tenho sempre muito cuidado a atravessar a rua, passo sempre na passadeira, nunca falo com estranhos, tomo sempre a horas e a quantidade certa de medicamentos receitada pelo médico, pratico sexo seguro e não conduzo embriagada.


Não sei porque o faço, talvez seja o desejo pelo trágico e pelo dramático. Sou muito dada a fatalismos. Acho que dão um certo colorido à vida. A vida que tenho não me permite grandes momentos de intensidade e assim sempre me sinto menos medricas e mais arrojada!

Um dia hei-de mandar consertar os estragos na minha cabeça provocados pela tempestade.

Friday, March 10, 2006

Encontro de amor.


A minha cama costuma estar fria e eu invariavelmente húmida. Preciso, para me aquecer e por medo de me perder do mundo das sensações, de um curioso objecto de natureza iracunda.
Recordo como se fosse hoje, o momento em que nos apresentaram em terras espanholas: -30€ por favor!
Como não sei falar castelhano não perguntei se tinha garantia.

Nobre ruína é o que resta dele.

Não andarei mais.


Desde cedo que sinto uma dor profunda, estou farta e cansada de ser quem sou, de viver em casas hipotecadas e de uma infinita e repetida guerra de sobrevivência.
Hipoteco este desabafo e cruzo as pernas como manifesto.

Levo a minha vida pela mão, como se fosse uma criança pequena.

Thursday, March 09, 2006

Maria

Sou de uma natureza presunçosa, mas não gosto de o admitir, não fica bem a meninas de bem. Evito andar com mulheres de má vida, não vá alguém descobrir que invejo a vida que levam. Visto sempre roupa larga, os contornos do meu corpo têm que ser escondidos. Nunca digo o que penso. Em todo o lado encontro pessoas horrorosas que me fascinam pela sua rudeza. Desprezo as restrições que não são impostas por mim.
Chamo-me Maria e agrada-me saber que me estás a ler.

Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos" Anais Nin

De dia e de noite todas as gatas são parvas

De dia as gatas correm como comboios suburbanos, são metálicas e resplandecentes. Quando a luz do sol se deita fogem para os terminais e perguntam-se se alguém ficou feliz de as ver. De dia e de noite todas as gatas são parvas.