Tuesday, November 28, 2006

O meu filho

Hoje sonhei que era mãe de um menino azul. Como em todos os sonhos em que estou grávida só descubro no último minuto e vou sempre comprar o berço e as fraldas quando já devia estar… a parir. Mas desta vez a criança era azul, cabelo azul e pele azul, muito bonito… mas azul!! Fiquei maravilhada e pensei que era mesmo sortuda por ter tido um filho tão especial e perfeito, ainda por cima já dizia algumas palavras… Só quando o F. e o médico chegam e olham para mim escandalizados é que me apercebo que alguma coisa está mal: não devia ter comprado roupa verde!

acordar, hoje...

"I would prefer not to"

Monday, November 27, 2006

voz numa pedra

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal

Mário Cesariny

Friday, November 24, 2006

SOCOOOORO, AFINAL É UMA PRAGA!!!!! AHHHHH

Zeca Baleiro, muito bom!

O meu horóscopo hoje ;)



Aunque casi todo en tu vida parece andar de maravillas, Acuario, hoy sentirás pánico. Tendrás un ataque de pánico que no durará. Sin embargo, es posible que esto se deba al surgimiento de tus más profundas inseguridades. No lo analices demasiado y no le prestes atención a las dudas expresadas por los demás. Cree en ti misma, continua trabajando duro y sigue adelante.
O F. gostava que eu viesse com livro de instruções.
A solidão consome os meus dias de falsa labuta e aparência de que algo me alimenta. Sinto a ansiedade crescer, aquela mesma ansiedade que julguei jamais me voltar a assombrar. Desejo novamente os comprimidos que me davam a confiança de que tudo ia correr bem, que me seguravam o ânimo e me saciavam o medo de voltar a cair naquele estado de espírito em que a vida parece um túnel que não termina. Tento lidar com as coisas e esqueço-me de dar mimo ao meu corpo e à minha alma. Tento acordar mas o corpo pede-me mais três horas de cama, enquanto a minha cabeça faz por não ouvir o telemóvel que toca com alguém que quer algo de mim e que eu não sei como dar. O dinheiro, a falta dele, a minha incompetência. Evito queixar-me, sou demasiado repetitiva porque a tentativa é infrutífera. Afasto toda a gente, se eu pudesse também mudava de cidade e deixava a minha pequena desgraça para trás. Não consigo ser feliz, porra. Não consigo olhar para a árvore que em frente ao meu escritório vai perdendo as folhas. A estranha relação que tenho com a minha família faz com que me sinta uma apátrida. A ausência de quem amo faz com que o amor pareça imaterial. Passa o tempo, passam os dias, não me entendo com as partes do meu corpo que não estão como me lembro delas. Faço mal a mim própria com intervalos regulares de tempo. A minha cabeça não desliga, não me consigo alhear. Porra.

Wednesday, November 22, 2006

M. e a viagem para o livro

- Você já é uma mulher.
Era a primeira vez que M. se pensava com tais palavras.

Mostrou-se perturbada com a presença Dele, enquanto a sua consciência a lembrava da máxima que devia seguir "Não te acostumes a prazeres...".

Por ser mais escrupulosa do que libidinosa e mais ingénua do que mordaz, não lhe respondeu. No meio das frases dele, dos sorrisos dele e das mãos dele, que ao se moverem quase a tocavam, lembrou-se da heroína de um livro.
No entanto, a M., faltava a ousadia que faz com que uma personagem se transforme em herói.

Daniel Filipe- A Invenção do amor

A invenção do amor

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade

É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

...

É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

...

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua

Pensamento das 00:26

Já que estou a trabalhar a esta hora devia fazer qualquer coisita. Porra.

Linda...

Tuesday, November 21, 2006

Hollywood glamour dos anos 50

Monday, November 20, 2006

Quando chegou a casa, Maria tropeçou no tapete da entrada, ligou a luz, e a lâmpada no minuto a seguir fundiu. Quando pousou a chave em cima do aparador da sala atirou com a jarra da avó para o chão e quando se sentou no sofá acertou em cheio nos restos da fatia de bolo da noite anterior. No entanto, não se levantou. Permaneceu imóvel até à meia-noite. Ouviu as doze badaladas sonoras do relógio da sala e depois sorriu. Era óbvio para ela, sentia-se uma Cinderela ao contrário, por isso, com o quebrar do feitiço era provável que pudesse sair sem problemas até às 8 da manhã com o Francisco e quiçá passar melhor noite da vida dela.

ih ih ;)

Thursday, November 16, 2006

Porque a vida é feita de pequenos nadas...

Tuesday, November 14, 2006

Preciso de óculos.

------------------------------------------------------- uns com umas lentes especiais. Daqueles que me deixem ver só as coisas boas. Boas mamas, belos traseiros, muitas notas, paisagens de outros paises... ----------------------------------------------------------No Natal, de presente, eu quero ter uma visão diferente do mundo.
Preciso de óculos.

------------------------------------------------------- uns com umas lentes especiais. Daqueles que me deixem ver só as coisas boas. Boas mamas, belos traseiros, muitas notas, paisagens de outros paises... ----------------------------------------------------------No Natal, de presente, eu quero ter uma visão diferente do mundo.

Saturday, November 11, 2006

Para o mauzão do F.

Taras + Manias (porque é impossivel resistir ao pedido de alguém com o cognome Abssinto)

TARAS+MANIAS*

1-Mordisco o lábio por dentro;
2-Atiro tudo para o chão;
3- Quando estou sentada abano a perna direita;
4- Choro quando sou mal tratada numa loja, no consultório médico ou nos serviços públicos;
5- Quando ando na rua sozinha vou em passo de corrida.

Mas não PALITO OS DENTES!!! (só quando não está ninguem a ver, ihih)

Eis os hábitos do Abssinto (copiados sem autorização ;) )

1 - Mordiscar palitos (um hábito pavoroso)
2 - Nunca ouço um disco corrido. Selecciono o modo aleatório (shuffle) ou as minhas músicas preferidas.
3 - Levar guloseimas para comer quando conduzo.
4 - Se estou com a neura faço uma série de flexões nem que esteja com duas camisolas e um sobretudo vestidos. Alivia instantaneamente.
5 - Quando vou correr acabo sempre por tirar a t-shirt (transpiro muito, não é por mais nada). Um dia serei multado.

*...Cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais

Friday, November 10, 2006

Uma boa razão para chorar:

1- os olhos ficam bem limpinhos

Wednesday, November 08, 2006

Rainha de copas

Em certos dias longos sinto-me uma adolescente envelhecida. Não me conformo com o passar dos anos e com a suposta emancipação sexual que nos obriga a ir para a cama com B ou C sem mostrar pudor. Pensam que é fácil abrir as pernas e mostrar o segredo, não se contentam com o desvendar erótico do corpo semi-desnudo.
Lembro-me dos meus tempos de descoberta sexual, em que a passagem da mama esquerda para a direita era feita com a lentidão das descobertas na nau em direcção ao continente desconhecido. Um misto de temor e excitação contida por ter aquela mão estranha e inábil a tactear um território nunca antes... Agora, mesmo depois de tantas aventuras que nem sempre me proporcionaram o êxtase prometido, continuo a não me querer dar às várias letras do alfabeto nem no sentido lato nem no translato. Não que o segredo seja uma coisa assim tão bem escondida, até posso dizer que já mudou várias vezes de portador, mas é que o segredo da forma como respiro, gemo e me arrepio é o meu trunfo e não o quero desperdiçar numa jogada sem valor.